1. |
Último osso
03:22
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Qual o nome disso
Que arde no peito sem queimar?
Corpo mole e movediço
E seu compromisso de me matar
Qual o seu feitiço
Plantado no umbigo pra durar?
Seu veneno e seu castigo
Olho mendigo do meu olhar
Olha até secar
Olho seco punhal
Crava o anzol por dentro
Seu líquido grudento vai
Vai tomando tudo
Inundando o abrigo dessa dor
Dor parada no escuro
No poço fundo do nosso amor
Armo o meu escudo
Último osso sem quebrar
Na garganta onde engulo
Meu grito agudo vai derrubar
Nada vai escapar
Fome nem paladar
Vou mastigar o mundo
Regurgitar a manhã que vem
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2. |
Na goela
02:08
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Ah
A boca abria
Presa na língua
Uma palavra só
Não se ouvia
Nem me dizia
Nenhum segredo
Nem para um beijo só
Era só medo
De ouvir
Ter de encarar
A voz
Voz traiçoeira
Mostra seus dentes
Morde o que vai falar
Gasta saliva
Sem dó
Cospe no seu
Prato
Bicho morto cai
Cão no asfalto sem ar no pulmão
Voz-latido e cal
Sol ferido na escuridão
Mostra essa cara
Voz de mentira
Mente que vai cantar
A voz mendiga
Sem lar
Vive no meu
Gogó
Não emite som
Nem o timbre fraco das vogais
Hálito ruim
De palavra morta velha
Na goela
Na goela
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3. |
Herdeiros do antes
02:02
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Tome todo o tempo que for
Não me escondo mais pra chorar
Não vou consumir a carne fria do jantar
Somos os herdeiros do antes
Vemos adiante o desmanche
Vamos assistir ao fim do mundo, do sofá?
Na tv
Vejo um rei
Vejo a lei
Já saquei
Querem todos nos matar
Uma cor
Sem calor
Um horror
Só tem dor
Dentro desta velha máscara
Para acreditar no amor
Para obedecer o prazer
Para destruir o mundo novo que virá
É preciso não sucumbir
Não fingir que não vai rolar
Ontem era aqui, daqui não vou deixar passar
Sonharei
Cantarei
Amarei
Deixarei
Tudo o que quiser entrar
Quebrarei
Todo rei
Toda lei
Servirei
Só quem me quiser sem máscara
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4. |
Minha armadilha
02:52
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A armadilha em que caí
Eu desenhei à mão
Nas linhas verdes do capim
Nos olhos de pavão
Um arco-íris
Risquei no chão
Já era tarde quando vi
Não dava pra escapar
Estava preso no azul
Dentro do seu olhar
Olhei não quis
Acreditar
Parava a noite e o sol
Pra te ver passar
Eu era o seu farol
Era sua lâmpada
No fim do dia eu fui morar
Bem no entardecer
Entre a manhã e a escuridão
Tudo pra você
A minha dor
E o meu prazer
Fantasma desse amor
Vem me assombrar
Implora o meu perdão
Quer a minha lágrima
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5. |
A olho nu
03:32
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Não carrego nada
Que
Não caiba nessa mão
Nem a sombra dela no chão
Tenho só uma cara
Só uma expressão
Só essa dor canalha
Sou o meu próprio cão
Cara dura
Dura pra ver
A luz do sol
Não me deixa esquecer
Ilumina
O que eu já vi
O fim do amor
Já passou por aqui
O amor acaba
Saiba
Em goles de café
Numa hora fria qualquer
Dura uma madrugada
Dura um amanhecer
Uma colher de mágoa
Um resto de prazer
O amargo azul
Do seu olhar
Mirou em mim, eu não pude escapar
A olho nu
Dá pra cegar
O amor no fundo não é pra se olhar
Não carrego nada
Nem a sua mão
Nem a sombra dela no chão
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6. |
Tempo morto
03:10
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Deve estar na longa lista de notícias que não devem ser anunciadas
Que é melhor deixar de lado
Não mostrar
Deve estar no tempo morto que não passa dessa longa e fria madrugada
Que não serve pra mais nada
Nem pra andar
Joga pedra na Geni
Mas não faça isto aqui
Faz o que quiser fazer pra lá
Não na hora do jantar
Não na frente da tv
Quero o mesmo mas não quero ver
Talvez seja o seu nariz
Sua cara de infeliz
Mas eu ouço e não entendo o que diz
Ou talvez eu queira assim
Entender o que me diz
E fingir que não fui eu quem pediu
Li naquela testa muito branca o ódio escrito com carradas de saliva
Cuspidas de uma boca grande
Sem sorrir
Só o riso falso e escarrado sobre os corpos que se empilham na avenida
Vão travando o dia a dia
Do país
Como dá pra ser feliz
Com essa gente por aí
Exibindo a sua dor no sol?
Eu me sento no sofá
Eu desligo a tv
Eu não sou mais obrigado a ver
Toda essa maldição
Que carregam em suas mãos
Implorando por perdão do seu Deus
Não sou eu que vou chorar
Ninguém pode me obrigar
Vou fechar meus olhos e descansar
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7. |
Eu não tenho fim
03:57
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Eu sou eu porque sou você
Sou até quem não quero ser
Sou nenhum, eu sou um milhão
Sou assim
Eu não tenho fim
Sou neném
E seu pai, sou também
Minha voz
É a voz de um compositor
Que não sabe cantar
Tem a voz
De uma gente que já sonhou
Que podia sonhar
Imaginou
Uma história sem vencedor
Um amor sem lugar
Sou a cara de quem morreu
Sou o filho de um filho meu
Sou ninguém, eu sou quem perdeu
Sou pavio
Que não acendeu
Sou o rio
Que desapareceu
Entendeu?
Sou a luz e eu sou o breu
Tudo isto sou eu
Quando rio
Não gargalho, não sai um pio
Da garganta com medo
De cantar
E saber que não vai passar
Que ainda vai demorar
Mesmo assim
Quero tudo o que tem pra mim
O que dá e não dá
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8. |
O amor por um triz
02:53
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Num papel borrado eu li
Poemas que nunca me leu
Dedicando o seu nanquim
A nomes que não são os meus
Pra quem será foi?
A rima com amor
Que rima sem dor nem dó
Tirou nem o pó
Já tem outra flor
Na pele onde tatuou
Seu dente-de-leão
Voou
Um final feliz eu quis`
O meu reinado da manhã
Tudo que eu te prometi
O sol que brilha na maçã
De volta pra mim
A minha ilusão
As coisas no meu porão
Debaixo do chão
Lembranças ruins
Voltando pra me avisar
Vai ser um longo e velho verão
Então de quem é
O mundo no fim
O filho de estimação
O amor por um triz
O arranha-céu
Que não deixa o céu
Riscar as linhas do avião
Que vai até você
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9. |
Quem dera
02:16
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Quem dera eu
Tivesse
A voz da
Tristeza pra soletrar
Feli-
cida-
de vem
Me levar
Quem dera
O segredo fosse
Dizer o nome
E aparecer
Xampu
Chapéu
Navalha
Maçã do amor
Poder sorrir sem dó
Recomeçar o dia
Bem mais azul
Que o azul dos seus olhos azuis
Um azul de mentira
Um céu
Que chovia em gotas
A tempestade do que perdi
Manhã
Jardim
A voz do cantor
Um céu
Que não refletia
Na sombra fria
O calor do sol
Farol
Sem luz
Espelho
De feltro e pó
Um animal sorri
Tamanduá bandeira
Suga a manhã
O jardim
Suga a voz do cantor
Suga mais do que imaginou
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10. |
Voz refém
04:39
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Chutar o céu, cair de pé, ouvir o osso se quebrar
Cair no chão, chutar um cão, comer o osso do jantar
Como é que dá, pra levantar
Se tudo empurra para baixo esse corpo sem cidadão
Cidade não, um paredão
Quer esconder os pés descalços nas sapatas do minhocão
Dá pra ver
Na pele de vidro a confissão
Nela espelha a dor
Tem a sua cara
Vejo um chapéu, será boné?
Lá tem um nome escrito a mão
Não é de Deus, não é Pelé, é só o nome do patrão
É tudo igual
Um animal
Marcando a pele de tristeza e de miséria pro carnaval
Sair de rei, de general
Fantasiando a sua glória, a fantasia do funeral
Vai morrer
De raiva, pecado ou de solidão
Vai tombar sem dó
Vai levar na cara
Vai
Derreter a calota polar e não vai melhorar
Habitar o planeta vermelho não vai adiar o fim
Sim, eu sei é preciso seguir e não desanimar
Não pedir pra sair e sorrir se quiserem levar seu rim
O que já perdeu não existe mais
Deixe para trás, troque de calçada
Pra não cair, tem que pular
Tem que fingir que vai mudar
Que ainda dá, vai renascer, um novo homem no lugar
Que não vai mais atrapalhar
Nem perguntar ao meio dia quantas horas tem pro jantar
Vai repetir, eu desisti
Já não me importa quando é hora de sorrir ou de Lamentar
Ouça bem
A voz sem palavra não é ninguém
Diz a voz refém, canta a voz de máscara
De joelhos dobrados um homem não quer se entregar
Diz ser crente temente daquele que lhe prometeu o céu
Disse aquele é melhor desistir do que remediar
Que deixar de seguir o santíssimo nome no seu chapéu
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11. |
Paralelepípedo
02:02
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Paralelepípedo cai
Paralelo à linha do amor
No infinito vão se beijar
Não importa o tempo que dá
Cento e vinte anos de amor
Um segundo e já não vai dar
Eu não vou me entregar
Estou livre pra ser
O cantor que não quer cantar
Eu não quero um amor
Nem a voz de cantor
Hoje eu quero me desligar
Nem vem
Sai pra lá
Não tem
Mais ninguém
Meu bem
Só poeira
Não me lembro mais o que fui
Posso repetir o que sou
Sem um nome pra nomear
Sonho, pedra, nuvem, buquê
Osso duro ruim de roer
O que for eu não vou guardar
O sermão dos jornais
O anel dos casais
O primeiro que vai piscar
Novos dias iguais
Outros cem carnavais
Pela última vez, não dá!
Não dá
E se deu
Não quis
E se quis
Já foi
Esqueci
Nem vem
Sai pra lá
Não tem
Mais ninguém
Meu bem
Só poeira
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12. |
Mais uma dor
03:50
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Sobrevivi
Mais uma vez
Mas dói ainda
Dói bem aqui
Mais uma dor
Dói pra lembrar
Não tem fim
Uma dor que é doída quer
Mais que doer
Quer demorar
Bem mais que a vida
Quer consumir
Cicatrizar
Nessa ferida aberta
Tudo aquilo que não dói mais
Não há vazio que prenda
A minha atenção
Nem o calor de um dia inteiro de sol
Dando adeus
Não doeu
Não demorou
Nem uma lágrima só
Minha cara não mente mais
Rio da vida porque nunca quis ser feliz
Mostro os meus dentes, nem tente
Acordar minha dor, eu já dormi
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13. |
Dentro da estrela vazia
03:20
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Pare, não ultrapasse o sinal
Pare, não se adiante
Descanse
Não perca um único instante de sol
Põe sua isca viva no anzol
Pesque seu oriente
Afogue esse olho grande
Afunde no sal
Arranque o tempo do temporal
Sopre no vento um desejo igual
Pare, repare na confusão
Fuja pra longe
Leve o seu corpo
Desabe todo o seu peso no chão
Fale, declare a sua intenção
Deixe de molho
Ou guarde em segredo
Não tenha medo, os profetas dirão
Como saber se um amor morreu
Se quem amava não era eu?
Dentro da estrela vazia do mar
Neste silêncio
Que explode na boca antes de falar
Cem mil palavras pra explodir
Não há nenhuma
Onde eu possa apagar
Uma que faça eu sumir
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14. |
Um por um
03:23
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Vai demorar
Diz a minha TV
Mais de cem
De cem mil
Um milhão
Pode contar
Muitos zeros virão
Um avô
Um irmão
Multidão
Morto vivo
Cão latido
Voz ruído
Meu umbigo
Movediço
Meu pulmão sem ar
Já pode abrir
Ou melhor esperar?
Quem me diz
Quem dirá
Vai ter fim?
Sem contorno
Nome, cara
Peso, fala
Pó, palavra
Pá de cal
Jornal pra embrulhar
Fala!
Fala o nome de todos
Um por um quero ouvir falar
Enterrar
Dentro
Do azul da bandeira
Mais estrelas pra enfeitar
Seu país
Feliz
|
Tiago Rosas RJ, Brazil
Brazillian songwriter. Released my first album in 2020, "Crenças e Tramas". The second one, "Na Goela", with Romulo Fróes, was made during the covid-19 quarantine.
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